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E depois da COVID-19? Quais são as desculpas que deviam ser oportunidades?

Os especialistas são unânimes quanto à necessidade de aliviar as restrições impostas por via da COVID-19 e de fazermos a transição de pandemia para endemia. Agora que tendemos para voltar à vida “normal”, impõe-se a pergunta: quais são as desculpas que deviam ser oportunidades que vamos arranjar para não fazer/implementar as mudanças necessárias nos serviços em geral, na saúde em particular?


A questão é provocatória e nada tem de politicamente correto, mas este artigo não segue as regras “by the book”.


Passámos dois anos a ouvir que nada ficará igual depois da COVID-19. Que avançámos digitalmente mais neste período do que na última década. Que é um ponto de inflexão e não volta atrás. Que devemos aproveitar todas estas alterações “forçadas” para promover avanços e modernização dos serviços. Pois bem… Hoje a sociedade, “mentalmente”, já está em endemia (sempre à frente do tempo das decisões políticas, já quando foi para confinar em março de 2020 assim foi), pelo que se impõe outra questão: como vai ser daqui para a frente? A COVID-19 como desculpa para não fazer o que quer que seja já não serve. E agora?


Olhemos para o setor da saúde e em particular para os cuidados primários. Estamos num momento sem igual para implementar o que até aqui dizíamos ser muito complicado ou quase impossível. Quando é que, em outra altura, tantos utentes estiveram tão familiarizados e disponíveis para a realização de testes, com efeito de triagem? Nunca. Há dois anos, implementar um serviço de despiste da presença de Streptococcus A no exsudado faríngeo nas farmácias, para avaliar a presença ou não de infeção e consequente necessidade ou não de antibiótico, era quase como desafiar a lei da seleção natural de Darwin. Como vai ser amanhã? Diria que é uma oportunidade que está a ser dada de bandeja. Quem não souber aproveitar para surfar esta onda e implementar estes serviços, perde o comboio. E este não volta a passar tão cedo. Como o próprio Darwin nos deixou para a posteridade: é a seleção natural a fazer o seu trabalho.


“E implementar novos serviços e dinâmicas?”. Invariavelmente a resposta é “…com a COVID-19 não convém grandes mexidas”. E quando questiono “Então e quando acabarem as restrições? Já não falta tudo”. Ouço a resposta típica “logo se vê”. É talvez este o maior problema de todos. Não é a falta de vontade. Não é a ausência de perceção da necessidade de fazer melhor e diferente. É o típico correr atrás do prejuízo. É o esperar para ver. É o copiar o que os outros fazem porque dá menos trabalho. É esperar para ver se resulta com os outros para não correr riscos. E, enquanto isso, os mesmos de sempre estão na vanguarda. Os mesmos de sempre arriscam. Os mesmos de sempre destacam-se. É difícil estar onde eles estão? Não. Só é preciso ter a vontade e a coragem que têm para arriscar.


Em 2019, a comunicação nas redes sociais era já obrigatória porque era lá que os clientes já passavam grande parte do seu tempo. Passados dois anos, esta presença não é obrigatória, é imperativa. Tudo se passa no digital. É lá que estão cada vez mais os nossos clientes. E numa altura em que os acrílicos nos separam ainda mais dos nossos clientes, arranjar outras formas de estar sempre em contacto com eles é necessário. Como diz um ditado “quem não aparece, esquece”. “Mas a página tem pouco seguidores, não temos tempo para atualizar e publicar conteúdos, é tempo perdido para o retorno que dá”. Estas são algumas das “desculpas” que ainda ouço. Para todas elas há solução. E se não temos habilidade, capacidade ou tempo para o fazer, há lá fora muitas empresas que o fazem. É preciso é saber o que se pretende. Comunicar saúde não é igual a comunicar outros produtos. Talvez o cliente espere de empresas ligadas à saúde informação de saúde e bem-estar e, lá pelo meio, uma comunicação de novidades, produtos ou campanhas. Para ver promoções o tempo todo, segue a página do supermercado ou vê páginas de marcas de roupa.


Abordei três situações distintas, mas poderia ter falado de outras tantas. Em todas, a mesma ilação: a COVID-19 deu-nos as razões (ainda que antes elas já fossem visíveis) para termos de evoluir, e rápido. Cabe a cada um decidir onde quer estar. Se na frente ou no pelotão.


Há oportunidades que devem ser aproveitadas no momento certo. Como cantam os Bon Jovi “It’s my life. It’s now or never”.

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