top of page

FARMACÊUTICOS: mais NÓS, menos EU!

“Divide et impera” ou “Divide et Vinces”, em português, dividir para conquistar/reinar. Um clássico nas estratégias de “guerra”, na política e sociologia. Significa ganhar o controlo ou poder através de fragmentação de maiores concentrações, sem que estas se consigam manter individualmente. 

 

O que é que tem tudo isto que ver com os farmacêuticos, as farmácias e o setor, na atualidade? Tudo. Para quem, como eu, acompanha o setor de perto e com toda a atenção necessária, não é possível ficar indiferente ao movimento turbulento que se vive desde há uns anos a esta parte. Razão mais do que suficiente para abordar o tema.

 

Julgo não ser necessário trazer definições de trabalho em equipa, das mais-valias obtidas com a união de uma equipa/classe/setor/país, ou do quão mais é possível alcançar quando todos estão alinhados quanto ao objetivo final. De igual forma, também julgo ser do conhecimento global o que advém do divisionismo destas mesmas equipas/classes/setores ou países (quando têm um objetivo comum). Desde a desconfiança até à fragilidade, fragmentação e irrelevância para o ecossistema onde estamos inseridos, é um ápice.

 

Nós, os farmacêuticos e as farmácias, fomos, durante muito tempo, o exemplo de profissionais e de um setor unidos. Só essa união permitiu às farmácias estar, durante muitos anos, na vanguarda da inovação. Basta lembrar que foi o primeiro espaço a utilizar um computador para concentrar a operação do dia a dia. A criação da própria Associação Nacional das Farmácias (ANF) é outro exemplo. Mais recentemente, a resposta estrondosa que demos à pandemia COVID-19, nunca tendo fechado e estando sempre disponíveis para a sociedade, colocando-nos em risco para servir. 

 

FOMOS unidos quer dizer que já não SOMOS unidos? Na minha opinião, já não somos os mais unidos. Somos uma classe profissional onde o divisionismo ganhou relevância e onde o “EU” é mais importante que o “NÓS” e, aqui chegados, estamos na era do salve-se quem puder. O imediatismo cega de tal forma que não se pensa que aquilo que fazemos agora, lá à frente irá trazer consequências. A todos!

 

Entre especialidades ou pares, disputa-se “o que é meu” e “o que é teu”, quando deveríamos dizer “Como podemos colaborar (dividir para reinar) no processo para todos ganharmos?”.

 

Como é que chegámos até aqui? Era tema para um capítulo e não para um artigo de opinião. Mas certamente que entre fatores externos, como alterações legislativas, ou internos, como a dificuldade em manter-se na vanguarda e inovar ou as alterações das lideranças, seriam pontos a figurar nesse mesmo capítulo. Do passado não há muito a fazer, apenas concluir factos e retirar lições para aplicar ou não no futuro.

 

O foco deve ser o presente e o futuro. E porque “estar” desunido não significa “ser” desunido, há todo um potencial de oportunidades para voltamos a ser, novamente, a classe profissional mais unida. Tendo sempre em mente que tornarmo-nos mais fortes vem da partilha e congregação de ideias, opiniões e caminhos. Não temos de pensar todos o mesmo, nem temos de partilhar todos da mesma solução. O que temos é de integrar TODOS nas decisões que são estruturais para o futuro de todos nós.

 

Infelizmente, nos últimos anos, estamos tão divididos que nos aproximamos assustadoramente das dinâmicas governativas do país. Desfaz-se ou refaz-se o que estava bem só para se dizer que se fez. Já no que toca a medidas estruturais, essas empurram-se com a barriga, camufladas com conquistas, que são elas mesmas fonte de divisionismo entre os farmacêuticos.  A vacinação contra a Gripe e a COVID-19 são disso exemplo. Uma oportunidade estrondosa para as farmácias, concedida às farmácias pela sua excelência e capacidade, mas que veio adensar ainda mais a divisão.

 

Esta minha partilha acerca do tema não é um achómetro. Semanalmente estou nas farmácias, com os farmacêuticos, a trabalhar na inovação das mesmas. É inegável a discussão dos temas “quentes” do setor. Assim como é inegável que, em 10 anos a trabalhar com e nas farmácias, nunca antes os polos estiveram tão extremados como estão atualmente. Quem ganha com tudo isto? Certamente que não será o “NÓS”, nem tão pouco o “EU”. Ganha quem está a assistir de camarote ao enfraquecimento do setor, no qual sempre sonharam entrar por completo.

 

Mais do que nunca o tema está em cima da mesa. É bom que assim seja. É da discussão que surgem as soluções vencedoras. Enquanto farmacêutica, o que desejo é uma discussão elevada, clara e objetiva dos temas que realmente interferem na operação diária da farmácia e a podem ajudar a evoluir:

  • Quais as transformações que vamos ter de operar para tornar a farmácia sustentável?

  • Quais as estratégias que a farmácia tem de implementar para se tornar atrativa para os farmacêuticos?

  • Como vai a farmácia acompanhar a evolução acelerada da digitalização do mundo e, em concreto, da saúde?

  • Como vai a farmácia posicionar-se no Sistema de Saúde?

 

Não tenhamos ilusões: Portugal será, cada vez mais, um Sistema de Saúde. Qualquer sistema é composto por vários prestadores, onde as farmácias são um player valioso. Como tal, é indispensável que exista uma estratégia clara do papel que é pretendido. Caso contrário, outras classes mais unidas partem em vantagem.

 

Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, disse que não importa o quão brilhante é uma ideia ou estratégia se a implementar sozinho, porque vai acabar por perder para uma equipa. Todos sabemos ou já vivenciamos isto e daí o mote para este texto:

 

FARMACÊUTICOS: mais nós, menos eu!

Comments


bottom of page