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Porque devo implementar testes Point-Of-Care na Farmácia?

Atualizado: 24 de out. de 2023



"A profissão está a atravessar uma crise de identidade entre um farmacêutico que se limita a dispensar o medicamento que lhe é dito para dispensar e outro que desempenha funções clínicas de alto nível. O público não faz ideia do que fazem os farmacêuticos centrados no doente."

Diretor, Faculdade de Farmácia, USA



O mercado da saúde está a sofrer alterações a grande velocidade, tendo sido a pandemia COVID-19 a grande impulsionadora para estas mudanças. A grande tendência da saúde está a alterar-se face à forma como era até aqui conhecida, estando a assistir-se à mudança de comportamentos da “CURA” para a “PREVENÇÃO”.


Outra das grandes tendências de mercado à qual a saúde, e particularmente as farmácias, não pode fugir é a cada vez mais badalada Costumer Centric”. Transpondo para o mercado da saúde, não é mais do que colocar o “doente no centro”, ou seja, o centro não é o medicamento, não é o profissional de saúde, o centro é o doente e tudo o resto circula à sua volta.


Ambas as situações referidas anteriormente implicam, por parte dos atores da saúde, dos quais a farmácia e os farmacêuticos fazem parte, adaptação e novos serviços que se centrem na pessoa. Tal vai obrigar a novas formas de intervenção e maior interação entre os vários profissionais de saúde.


É neste sentido que a introdução de testes Point-Of-Care, daqui em diante referidos como POC, será uma grande aliada na adaptação a estas novas tendências que estão a surgir no mercado global e no da saúde em particular.


O que são testes Point-of-Care (POC)?


De acordo com a Organização Internacional da Normalização (ISO), POC significa “teste realizado próximo ou no local de uma pessoa, cujo resultado pode levar a uma mudança no cuidado da mesma”.

Os POC são uma importante “arma” de triagem e identificação de doença na comunidade, cuja atuação do profissional de saúde pode implicar aconselhamento no local ou referenciação a outro profissional de saúde, quando apropriado.

De acordo com o quadro regulamentar em vigor, existe um vasto número de testes POC que podem ser realizados em farmácias comunitárias, com presença ou ausência de quaisquer sintomas de doença, desde que garantidas as necessárias medidas de segurança da equipa e dos restantes doentes/utentes da farmácia.


São várias as mais-valias da realização de testes POC na farmácia, entre elas:


  • Fornecer informações importantes que apoiam a tomada de decisão relativas ao estado de saúde, promovendo a redução de idas desnecessárias a serviços gerais de saúde ou urgências;

  • Monitorizar o controlo de doenças crónicas não transmissíveis, como por exemplo o tratamento com antidiabéticos orais ou antidislipidémicos;

  • Prestar cuidados farmacêuticos seguros e rápidos em situações agudas, como por exemplo triagem de infeção urinária ou infeção por Streptococcus do grupo A no exsudado faríngeo.

Todas estas intervenções promovem a prestação de cuidados farmacêuticos mais rápidos e adequados, levando a um menor agravamento da doença e diminuição dos custos em saúde.


Legislação portuguesa suporta a realização de POC na farmácia


A Portaria n. 1429/2007, de 2 de novembro define os Serviços Farmacêuticos que podem ser realizados em farmácias. Entre os descritos no Artigo 2.º, a alínea d) refere a utilização de meios auxiliares de diagnóstico e terapêutica, nos quais se enquadram, por exemplo, os testes de despiste de infeção por doença, como COVID-19, infeção urinária, infeção da orofaringe e outros.


Porque deve a farmácia implementar os POC?


Enquanto agentes de saúde dos cuidados primários, os farmacêuticos podem implementar serviços e intervenções que suportam não só a ação da sua farmácia, como também de outros profissionais de saúde como enfermeiros ou médicos. Neste sentido, são várias as razões para a implementação destes serviços na farmácia comunitária:

  1. Aumento do acesso aos cuidados de saúde;

  2. Integração do farmacêutico nos protocolos de intervenção com os restantes profissionais de saúde;

  3. Contributo para a diminuição da resistência aos antibióticos;

  4. Remuneração & Rentabilidade.


1. Aumento do acesso aos cuidados de saúde

Existem evidências crescentes para que a farmácia comunitária e os farmacêuticos implementem a realização dos POC e, assim, expandam a oferta de serviços, quer ao nível da monitorização de doenças crónicas quer na triagem de infeções.


Os POC são fáceis de executar e interpretar, fruto do mecanismo de ação dos mesmos. Apesar de estarem disponíveis nos hospitais e outros locais de saúde, não são realizados com frequência devido à sobrecarga destes mesmos serviços e aos custos que estes implicam para o orçamento nacional de saúde.


Além disso, a deteção precoce de doenças ou a monitorização de doenças crónicas promove a maximização do benefício terapêutico com menores custos para todos.


A farmácia figura, por isso, como ponto ideal para a realização destes testes. Os farmacêuticos têm competências para tal, sendo que, ao facto de serem um profissional de confiança para os utentes, acresce a capilaridade, acessibilidade e disponibilidade das farmácias, características necessárias à realização destes mesmos testes.


Tudo junto promove um maior acesso aos cuidados de saúde que, de outra forma, estava dificultado pela sobrecarga dos hospitais e urgências, bem como pela escassez de profissionais nestes mesmos ambientes.



2. Integração do farmacêutico nos protocolos de intervenção com os restantes profissionais de saúde

O farmacêutico é um profissional de saúde qualificado e apto à realização de POC para triagem de sinais precoces de infeção através da interpretação, que lhe permite fazer a distinção entre infeção viral ou bacteriana, ou monitorização de doenças crónicas, com vista à otimização dos resultados em saúde e contribuição para a eficiência do sistema de saúde.


Neste sentido, impera a necessidade de trabalhar em estreita cooperação com os demais profissionais de saúde que acompanham o doente, principalmente os médicos de MGF e outras instalações de saúde relevantes. Mais uma vez, o foco é o doente e não o profissional e todo o sistema que se desenrola à sua volta.


A integração do farmacêutico no desenvolvimento e presença ativa nos protocolos de intervenção é, por isso, uma obrigatoriedade, devendo haver acordo sobre os critérios para encaminhamento aos demais profissionais de saúde. Esta começa a ser cada vez mais notória face às alterações a que estamos a assistir, como a renovação da terapêutica ou a possibilidade de emitir notas terapêuticas ao prescritor.


A realização destes testes irá “pressionar” o sistema, à semelhança do que aconteceu com outras atuações como a vacinação, no sentido de permitir a comunicação através de registos eletrónicos partilhados com a restante equipa de saúde, permitindo o registo de resultados e a intervenção clínica realizada.



3. Contributo para a diminuição da resistência aos antibióticos

A resistência aos antibióticos é um problema de saúde global cuja resolução não se avizinha ser fácil. Surgem cada vez mais resistências sem solução por parte da indústria farmacêutica. Como tal, o contributo dos farmacêuticos enquanto agentes de saúde e especialistas do medicamento é a prevenção.


Assim, as farmácias são o ponto ideal para que parte desta “luta” seja travada. Ao detetar ou descartar infeções, através dos POC, o farmacêutico tem informação fiável para praticar a melhor intervenção, quer seja realizar aconselhamento sintomático, em caso de ausência de infeção bacteriana, quer seja referenciar ao médico, caso tenha sido detetada potencial infeção. Esta intervenção é válida em casos de situações agudas, como a deteção de infeção urinária ou infeção bacteriana da orofaringe, quer em casos de infeções por VIH/SIDA, hepatite ou outras.


A deteção em farmácia poder reduzir tratamentos desnecessários, como no caso da toma de antibióticos para infeção na garganta quando esta é viral, o que acontece em 90% dos casos. Simultaneamente é uma fonte de receita proveniente do serviço de realização do teste.

Imagem 1 - Exemplo de triagem de infeção. Acedido em 15.09.2023. [Consultar]



4. Remuneração & Rentabilidade

Os estudos têm demonstrado o potencial de benefícios em saúde e económicos resultantes da realização de POC em farmácia.


Os benefícios económicos podem ser vistos por dois ângulos: a sustentabilidade dos sistemas de saúde e a sustentabilidade das farmácias.


A manutenção de doenças crónicas controladas ou a deteção precoce de doenças agudas contribui para a redução significativa dos gastos em saúde, permitindo uma maior resposta dos sistemas de saúde às necessidades da população.


Por outro lado, ao nível das farmácias, a realização de POC representa um acréscimo de income resultante da venda do serviço farmacêutico à pessoa. Além da remuneração do serviço, e note-se que não é o teste, mas sim o serviço (engloba a atuação do farmacêutico pela realização do teste, interpretação e aconselhamento consequente), a farmácia aumenta os seus rendimentos através do aconselhamento complementar que realiza para alívio sintomático.


Acresce ao ponto anterior que as condições para realização destes testes já existem nas farmácias, nomeadamente ao nível de infraestruturas (Gabinete de Utente) e equipamentos (Eliminação de resíduos e outros), pelo que o investimento inicial para começar a realização dos testes se resume à aquisição dos testes específicos.


A remuneração dos POC realizados nas farmácias em Portugal, à data, é assegurada na totalidade pela pessoa que solicita a sua realização, como acontece, por exemplo, na realização do testes COVID-19, Deteção de Infeções Urinárias ou Deteção de Infeção na Orofaringe, bem como nos habituais testes de glicemia ou colesterol.


Contudo, o registo da intervenção, bem como dos resultados obtidos e do impacto no sistema de saúde, é fundamental para a integração destes serviços na prestação de cuidados de saúde e para a demonstração do seu valor o que, em última análise, será útil para reivindicar uma remuneração adequada pela sua prestação por parte das farmácias, quer seja ao estado quer seja a seguradoras.



Porque deve a farmácia realizar POC mesmo sem poder prescrever?


São vários os exemplos a nível mundial que demonstram a importância da realização de POC nas farmácias. Em concreto, no Reino Unido, os farmacêuticos já realizam testes POC para deteção de infeção por Steptococcus do grupo A na orofaringe, procedendo à prescrição de antibiótico em caso de resultado positivo. A intervenção é comunicada eletronicamente no serviço partilhado de saúde nacional para que o médico saiba que ocorreu esta intervenção e prescrição. Resultados preliminares indicam a mais-valia deste serviço com a redução de idas desnecessárias às urgências, também elas sobrecarregadas. Contudo, para chegar a este ponto, as farmácias e farmacêuticos ingleses tiveram de percorrer um caminho de implementação piloto, que gerou valor e evidência através do registo das intervenções e seguimento dos doentes.


Outro exemplo foi um estudo de campo realizado em 7 países europeus, a nível da farmácia comunitária, onde foi possível concluir que, nas farmácias que realizaram o teste de tira à urina a mulheres que apresentaram queixas sugestivas de infeção urinária, em 75% dos casos estas apresentaram, efetivamente, uma provável infeção, das quais a maioria voltou ainda no mesmo dia para adquirir antibiótico após ter sido encaminhada para consulta médica.


Em suma, a realização de testes POC irá traduzir-se para os clientes como “a farmácia que tem uma resposta rápida a um problema semelhante”. A realização destes testes é um caminho a percorrer para que, também em Portugal, possa acontecer o que já é uma realidade noutros países, como o Reino Unido.


Fique a saber mais sobre este tema no webinar Como os Testes Ponit-Of-Care contribuem para o aumento da rentabilidade da Farmácia”, a ter lugar no próximo dia 7 de novembro às 21h00. Inscreva-se aqui.


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Referências Bibliográficas


The Pharmacist of the Future. Unlocking the profession’s potencial to improve patiente care. Delloite. Dezembro 2021. Acedido em 15.09.2023. [Consultar]


Portaria n. 1429/2007, de 2 de Novembro. Artigo2.º, Serviços Farmacêuticos. Acedido em 15.09.2023. [Consultar]


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Point-of-care testing for infectious diseases in emergency settings. Health Europe. Janeiro 2023. Consultado em 15.09.2023. Acedido em 15.09.2023. [Consultar]


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